O mercado de papel no Brasil exibe uma marca importante: 100% do papel fabricado de fibra virgem no país vem de árvores cultivadas para esse fim. Ou seja, não há agressão a matas e florestas. Mas o setor vai além: 87% do que se produz em papelão ondulado, cartão de embalagens de líquidos e sacos são recuperados depois, de modo que 70% das embalagens de papelão ondulado brasileiras são produzidas com fibras recicladas.
Há de se destacar ainda que 90% da matriz energética do setor têm origem de fontes renováveis. São números que impressionam, sem dúvidas, e não foram construídos de uma hora para outra: são anos e anos de esforços em pesquisa, investimento, desenvolvimento e aplicação de tecnologias, pesquisas, educação e vontade política, gerencial e comercial para atender a uma demanda que é global, por um ambiente sustentável.
Entretanto, ainda há trilhas a caminhar. Segundo dados da International Solid Waste Association (ISWA, ou Associação Internacional de Resíduos Sólidos), o Brasil produz 27,7 milhões de toneladas anuais de resíduos recicláveis, mas apenas 4% são enviados para reciclagem, índice muito abaixo de países de mesma faixa de renda e grau de desenvolvimento econômico, como Chile, Argentina, África do Sul e Turquia, que apresentam média de 16% de reciclagem. Na Alemanha, o índice chega a 67%.
Dados de 2021, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), mostram que os materiais recicláveis secos representaram 33,6% do total de 82,5 milhões de toneladas anuais de resíduos sólidos urbanos (RSU) produzidos durante o período da pandemia da covid-19, nos anos de 2020 e 2021.
A Abrelpe afirma que os resíduos recicláveis secos incluem 8,57 milhões de toneladas anuais de papel e papelão, ou 10,4% do total, bem como 1,4% de embalagens multicamadas, ou 1,15 milhão de toneladas anuais.
Não se trata só de uma questão ambiental, mas econômica. Levantamento feito pela Abrelpe em 2019 mostrou que somente os recicláveis que vão para lixões levam a uma perda de R$ 14 bilhões anualmente, que poderiam gerar receita e renda para uma camada de população que trabalha com essa atividade. É uma perda dupla: ambiental e socioeconômica.
Mas há avanços. O poder público, em abril de 2022, publicou o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), com metas para os próximos 20 anos. Uma das metas estabelece 50% de aproveitamento neste período. Assim, metade do lixo gerado passará a ser valorizado por meio da reciclagem, compostagem e recuperação energética.
A iniciativa privada também está fazendo sua parte. Um dos exemplos é a Klabin, considerada a maior recicladora de papéis do Brasil. Atualmente, são mais de 400 mil toneladas de papéis reciclados por ano pela companhia, o que corresponde a 11% de todo o mercado. A Klabin alcança um índice de 98,1% de reaproveitamento de resíduos gerados em toda sua operação, que é considerada “limpa”. Mas o compromisso é chegar a 100% até 2030, uma meta ousada e ao mesmo tempo palpável de desenvolvimento sustentável.
Klabin busca parceiros em comunidades distintas, especialmente para a coleta de resíduos para reciclagem, o que faz movimentar toda a cadeia circular, com empregos, renda e conscientização.
Um dos projetos pioneiros acontece em Telêmaco Borba, no interior do Paraná, em parceria com a cervejaria Heineken, com a proposta de transformar o município em destino 100% circular, ao transformar, reaproveitar e reciclar o que antes iria para aterros sanitários. Cria-se, assim, uma ampla indústria, que inclui cooperativas locais, fomenta o empreendedorismo, incentiva a educação ambiental e melhora as condições de renda e emprego, além de impulsionar a comunidade para uma vivência mais justa em oportunidades.
Como se vê, o Brasil ainda tem muito o que fazer para se transformar em uma potência na reciclagem, mas caminha a passos largos nesse sentido. A compreensão da urgência foi o passo pioneiro. Agora, é um trabalho constante, ininterrupto, e a certeza de que nesse processo sem volta todo o país tem a ganhar.