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Bioeconomia: o futuro conciliado entre negócios e sustentabilidade

A Empapel acompanhou o evento realizado pela Two Sides, que agregou informações na reunião de conselho diretivo da entidade no final de 2022, com a participação da portuguesa Teresa Presas, cofundadora do World Bio Economy Forum. Ela falou sobre as perspectivas globais no campo da bioeconomia, citando os impactos do clima, da pandemia, da Guerra na Ucrânia, energia, inflação, globalização e geopolítica.

O ambiente econômico para 2023 é desafiador, com as principais economias com projeção de crescimento, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), entre 0,5% (zona do euro) e 1,0% (EUA), enquanto países em desenvolvimento poderão ter performances melhores: 1,7% (América Latina), 3,7% (África) e 4,9% (Ásia em desenvolvimento). O crescimento global deve ficar em 2,7% no ano que vem.

Tais números são reflexo de todos os setores da economia pressionados pelas questões geopolíticas, sanitárias e do clima, que distorceram o fluxo energético mundial e as cadeias de valor e de suprimentos, gerando inflação e mais desigualdade.

Os bancos centrais por todo o mundo correram para subir suas taxas de juros, na expectativa de frear a inflação, o que poderá levar o mundo a uma recessão, com mais desemprego. Tal processo ainda está em andamento. Apesar do cenário, o setor de papel se mostrou resiliente. O consumo de papel e cartão aumentou 3,2%, enquanto o de papel para embalagem subiu 8,4%.

Segundo Presas, a expectativa é que para 2023 haja aumento na procura de produtos de base florestal, por conta de uma “sustentabilidade reforçada”, com a busca por uma economia de baixo carbono, com emissões zero; utilização eficiente de recursos; gestão sustentável de materiais, com desperdício zero; consumo sustentável e gestão de resíduos, com diminuição dos aterros.

“A estratégia central no caminho é obter o maior valor possível dos recursos – madeira, fibras virgens e recicladas e matérias-primas não fibrosas”, ela ressalta. “A bioeconomia é exatamente isso: o alinhamento sustentável da economia com a utilização dos recursos biológicos”.

A bioeconomia na indústria de base florestal inclui gestão da matéria prima renovável; conhecimento exaustivo da fibra; logística; cadeias de valor estabelecidas; fábricas de papel como biorefinarias; tecnologias de ponta, com inovação e diversificação de produtos.

Teresa cita o relatório das Nações Unidas sobre o tema: “no longo prazo, uma estratégia de manejo florestal sustentável destinada a manter ou aumentar os estoques de carbono florestal, enquanto produz um rendimento anual sustentado de madeira, fibra ou energia da floresta, gerará o maior benefício sustentado de mitigação”.

Segundo ela, há uma contradição. O carbono armazenado em florestas tem um valor de mercado bem conhecido e importante, enquanto o carbono nos produtos, não. “Há de fato uma contradição que precisa ser resolvida para que se possa cumprir as metas de diminuição de utilização de recursos fósseis”.

De qualquer forma, um terço da economia mundial em 2030 será realizado por produtos derivados da bioeconomia, ela observa, citando decreto recente assinado pelo presidente norte-americano Joe Biden estimulando essa transformação. “A bioeconomia representa oportunidade de negócios para muitos setores e há exemplos em todo o mundo, não só no ocidental”.

Mas, segundo Teresa, “para que haja um efeito positivo e significativo, é preciso que os consumidores sejam capacitados para fazer escolhas sustentáveis, que haja um esforço real de comunicação; que seja feito pelo setor privado e apoiado com informação correta pelo setor público”. Para ela, é preciso que as “escolas ensinem” e que o consumidor “atue como um cidadão”.

“Que o setor seja reconhecido com um contribuidor importante para uma economia que não é futuro, mas está aí à porta, abrindo novos caminhos”, ela ressalta, reforçando ainda que é necessária muita coisa além da informação, desmistificando conceitos errôneos: é preciso incentivo, exemplos, planejamento e engajamento.

Teresa encerra sua fala citando os “tempos de mudança”, que a sociedade passa constantemente, com uma fala de Henry Ford: “se tivesse perguntado às pessoas o que queria ter, teriam respondido ‘cavalos mais velozes’ em vez de carros”. A bioeconomia é uma mudança em andamento. Não tão veloz quanto deveria, mas é um processo sem volta.

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