Dione Manetti é CEO da Pragma Soluções Sustentáveis e presidente do Instituto Pragma. Bacharel em Direito, atua há mais de 20 anos com o desenvolvimento e implementação de projetos na área de gestão de resíduos, especialmente nos temas da reciclagem, logística reversa e economia circular.
Foi diretor de Fomento da Secretaria Nacional de Economia Solidária, no Ministério do Trabalho e Emprego, entre 2003 e 2010. Coordenou o fechamento do lixão de Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, considerado o maior da América Latina, em 2012. Ele é o entrevistado do mês de setembro da Empapel News.
Há quanto tempo a Pragma atua na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e quais os principais desafios do setor?
A Pragma atua há 10 anos na logística reversa. Identificamos que um dos principais desafios é fazer com que esse instrumento da PNRS, que é a logística reversa, seja implementado na perspectiva de ampliar os números de embalagens recuperadas no Brasil, colaborando, por consequência, com a ampliação dos índices de reciclagem no país. E sendo cumprida da forma prevista na PNRS, também irá colaborar para a inclusão dos catadores, para que as empresas cumpram o seu compliance e para o enfrentamento às mudanças climáticas. A logística reversa não pode ser um espaço de maximização de lucro ou nicho para empresas que querem atuar enquanto entidade gestora, mas precisa ser tratada como política pública, muito embora financiada com recursos privados, além de parte de uma estratégia de construção de um modelo de desenvolvimento sustentável para o nosso país.
Quais são as expectativas para o ano de 2023?
Para o ano de 2023, nossa expectativa é que consigamos avançar com a regulação da logística reversa, tanto a nível federal quanto nos estados. Precisamos ter instrumentos que garantam transparência e que colaborem para que aquilo que é divulgado no mercado seja efetivamente realizado pelas empresas que são responsáveis por fazer a gestão da logística reversa. A nossa expectativa é que mais empresas sejam estimuladas a cumprirem sua obrigação de recuperação das suas embalagens e que seja realizado uma harmonização entre as legislações federais e estaduais, dando segurança jurídica para todos aqueles que atuam no setor.
Estamos no caminho certo em relação à reciclagem?
Nós acreditamos que o caminho para que avancemos com a reciclagem no país passa, necessariamente, por olhar a cadeia de suprimentos e todos os atores que a compõem, especialmente os catadores de materiais recicláveis. Nós não teremos uma cadeia estruturada, eficiente e justa, do ponto de vista da distribuição dos resultados econômicos entre os diferentes elos que a compõem, se não tivermos um olhar especial para os catadores de materiais recicláveis. Não somente na perspectiva social, que é fundamental e no que o Estado brasileiro também precisa atuar, mas, principalmente, naquilo que diz respeito à presença dos catadores, enquanto parte econômica dos diferentes elos da cadeia da reciclagem.
Do lançamento da PNRS até hoje há uma evolução ou ainda há muito a trilhar?
Não há dúvidas que tivemos uma grande evolução do lançamento da PNRS até hoje. Principalmente porque a PNRS nos permitiu evidenciar o debate sobre o tema de resíduos, até então não tratado de forma adequada pela legislação brasileira. Agora, também é verdade que temos muitos desafios que a PNRS prevê e que ainda não foram enfrentados na dimensão que se exige, como, o fechamento dos lixões, já que ainda existem mais de 2.500 em diferentes municípios brasileiros. Ao mesmo tempo, temos também a coleta seletiva, que ainda é implantada de maneira tímida no país e que precisa avançar para que alavanquemos a gestão integrada de resíduos sólidos no Brasil. Então, vemos avanços, mas os desafios que temos para dar efetividade à PNRS ainda são enormes.
O que mudou para a Pragma do período pré-pandemia para os dias atuais e como enxerga a projeção de futuro para o mercado de logística reversa?
Muitas coisas mudaram aqui na Pragma. Por conta da pandemia, que gerou um aumento muito grande na produção e colocação de embalagens no mercado, tivemos um crescimento na demanda de empresas que nos procuraram para auxiliá-las na recuperação de embalagens e cumprimento da logística reversa. Acreditamos que essa evidência que os resíduos e as embalagens ganharam durante a pandemia impulsionou a logística reversa, trazendo uma contribuição enorme para a recuperação de embalagens e para o desenvolvimento da reciclagem no país.
Mas durante a pandemia o que mais nos marcou foi a grande rede de solidariedade que se formou, na qual a Pragma esteve integrada, para garantir que os catadores de materiais recicláveis tivessem minimizado o impacto que a pandemia gerou nas suas atividades.
Já sobre o futuro da logística reversa, temos nitidez do grande desafio que é torná-la, de fato, um instrumento de política pública e não apenas mais um novo nicho de mercado. Somos otimistas quanto ao desenvolvimento desse setor no Brasil, porque mais e mais empresas vêm aderindo ao cumprimento da sua obrigação de logística reversa e investindo em organizações de catadores e em outros players estratégicos da cadeia da reciclagem. Outro ponto que nos anima é o avanço da regulação, tão necessária para que tenhamos transparência e segurança jurídica, dois elementos fundamentais para o desenvolvimento do setor.