Não há uma evolução dos nossos tempos que não incluam códigos, programações, algoritmos e uma visão tecnológica. Vale para qualquer coisa: de pedidos de comidas, músicas a escolha de roupas e sapatos, compras de qualquer produto a plataformas de educação. Então, por que não em sustentabilidade, proteção da natureza e do planeta?
A pergunta é retórica. Há startups que, por exemplo, atuam em função da floresta Amazônica. O bioma mais importante do planeta.
A bioeconomia não é uma novidade. De cosméticos a remédios, passando por alimentos e agronegócio em geral, há muito o que a floresta pode oferecer. Um exemplo é a Açaí Maps, ferramenta que auxilia o produtor da fruta em todo o processo. Outro é a Amazon BioFert, que vende um fertilizante organomioneral, em uma época que fertilizantes se tornam mais difíceis de acessar por conta da Guerra na Ucrânia.
A Google embarcou em um projeto ousado para mapear a floresta amazônica. A empresa que tem sistemas operacionais para a maioria dos computadores e celulares do mundo, além do mais usado sistema de busca na Internet e armazenadores de arquivos e softwares, agora pretende contribuir para evitar o desmatamento, a ocupação desnorteada e incêndios da floresta e, claro, conhecer ainda mais esse bioma.
A ousadia conta com o apoio de organizações que conhecem bastante a Amazônia, como o MapBiomas, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Todos os dados estão sendo organizados e armazenados na nuvem e utilizados por ferramentas como o Google Earth e Google Earth Engine.
O Google já faz parte do projeto Global Forest Watch, plataforma de mapeamento apoiada pela empresa e que usa tecnologia para acompanhar de perto as florestas do planeta.
Um exemplo de como a plataforma pode ser usada é o caso da United Cacao, uma empresa listada na bolsa de Londres, que promete produzir chocolate ético e sustentável e derrubou silenciosamente mais de 2.000 hectares de floresta tropical primária fechada na Amazônia peruana. A empresa alegou que o terreno já havia sido desmatado, mas as imagens de satélite mostraram o contrário. O Global Forest Watch, segundo o Imazon, “fornece dados confiáveis e atualizados sobre florestas em todo o mundo, juntamente com a capacidade de rastrear mudanças na cobertura florestal ao longo do tempo”.
Lançada há um ano pelo World Resources Institute (WRI), a plataforma trouxe um grau sem igual de transparência ao problema do desmatamento, apontando maneiras pelas quais a big data, computação em nuvem e crowdsourcing podem ajudar a atacar os difíceis problemas de sustentabilidade.
Ainda segundo o Imazon, várias revoluções tecnológicas mudaram o rumo dessa luta, incluindo armazenamento barato de dados, computação poderosa em nuvem, conectividade com a Internet em locais remotos e acesso gratuito a imagens de satélite do governo dos EUA. Nada disso era possível dez anos atrás.
O Google trabalha como parceiro do WRI, com desenvolvimento de softwares e oferecendo poder de computação. O programa é financiado por governos como Noruega, Estados Unidos e Reino Unido.
Mas o projeto do Google Brasil para a Floresta Amazônica, em parceria com a The Nature Conservancy (TNC), tem suas ambições próprias. Haverá soluções baseadas em Inteligência Artificial e em bioquímica para rastrear e identificar madeiras cortadas da Amazônia.
Esse é o projeto Digitais da Floresta, com análise de mais de 250 amostras de diferentes tipos de árvores nativas, usando análises das composições química e isotópica da madeira, chegando a possibilitar saber exatamente onde ela cresceu, para dizer se a árvore foi plantada em área legal ou ilegal. A partir daí, forma-se um banco de dados dessas madeiras, que vai virar uma plataforma online de uso aberto.
O mapeamento nesses projetos pode ajudar a evitar o desmatamento e, mais do que isso, evitar o comércio ilegal de madeira e todo o problema social que orbita esses crimes, e reduzir as emissões de quase 200 milhões de toneladas de gases de efeito estufa.