Empapel News

Home Notícias Empapel Economia Copom mantém a taxa Selic em 13,75% ao ano na reunião de junho; ata abre espaço para queda

Copom mantém a taxa Selic em 13,75% ao ano na reunião de junho; ata abre espaço para queda

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou em sua 255ª reunião, realizada agora em junho, a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano. É a sétima reunião consecutiva que a taxa é mantida nesse patamar.

O atual ciclo de altas que fez a Selic chegar a esse percentual começou em março de 2021, quando o Copom elevou de 2,00% ao ano, piso histórico da taxa, para 2,75%. A partir daí, foram 11 elevações, até chegar aos atuais 13,75%, na reunião de agosto de 2022.

A taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) é uma infraestrutura do mercado financeiro administrada pelo Banco Central. É nesse sistema que são transacionados títulos públicos federais. A taxa média ajustada dos financiamentos diários apurados nesse sistema corresponde à taxa Selic.​ E ela é referencial para toda a economia.

Os bancos centrais de todo mundo utilizam suas taxas referenciais como principal instrumento para controle inflacionário. A ideia é que quanto maior for a taxa de referência, mais caro é o crédito (ou o custo do dinheiro) e menos dinheiro a economia passa a ter em circulação – ou, em termos atuais, mais caro fica o uso do cartão de crédito, dos empréstimos bancários etc., o que desestimula o consumo. Em tese, com menos acesso ao dinheiro, menos as pessoas compram e menos os preços sobem. Em tese, porque não é só isso.

Junto com o anúncio da taxa, os bancos centrais divulgam o comunicado da decisão, expondo os motivos que levaram a tal decisão. O comunicado é importante, porque dá um retrato da economia no momento da reunião, mas também porque há projeções ou indicações do que os formuladores de política monetária pensam fazer no futuro.

Na terça-feira seguinte (em junho, foi dia 27), é divulgada a ata da reunião. A ata, em tese, é o comunicado com muito mais detalhes sobre a decisão.

No caso dessa reunião de junho, o mercado e os analistas já esperavam que a taxa se mantivesse em 13,75%, mas esperavam também que houvesse alguma indicação por parte do Banco Central de que poderia ocorrer um corte nas taxas na próxima reunião, nos dias 1º e 2 de agosto. Mas não foi isso que aconteceu. Pelo menos não no comunicado.

No comunicado sobre a decisão, o Comitê adotou um tom duro: sinalizou a continuidade de fatores de risco para o cenário inflacionário, como a maior persistência da inflação global, a incerteza residual envolvendo o arcabouço fiscal (a nova regra fiscal do governo federal) e seus possíveis impactos sobre as expectativas em torno da trajetória da dívida pública, além de uma maior, ou mais duradoura, desancorarem das expectativas de inflação para prazos mais longos.

Já na ata, o Copom suavizou o tom e acenou (leia aqui na íntegra a ata) com uma possibilidade de iniciar um ciclo de queda, embora tenha colocado algumas condições. Uma delas se refere à meta de inflação: “o Comitê avalia que decisões que reancorem as expectativas podem levar a uma desinflação mais célere. As projeções de inflação do Copom se reduziram, especialmente, no horizonte relevante, em boa medida como função da redução das expectativas de inflação”.

“A avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”, destacou a ata.

Meta de inflação e “ancoragem de expectativas”: por ora, essas são duas chaves importantes para o BC. Como percepção é algo bastante intangível, ao contrário de números, o Banco Central precisa comunicar com clareza e ter credibilidade suficiente em sua política monetária para que as pessoas não entendam que no futuro a inflação vai estar fora da meta proposta – no Brasil, a meta para a inflação é definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e está estipulada em 3,25% para 2023, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo, de modo que para a inflação ficar dentro da meta em 2023, ela precisaria encerrar o ano entre 1,75% e 4,75%.

Segundo o BC, mudar a meta de inflação – no caso, elevar a meta, como muitos defendem – pode causar nas pessoas a sensação de que o governo entende que a inflação vai subir mais do que o imaginado e, assim, elevar as expectativas de inflação.

A economia não é uma ciência exata, como muitos pensam. Ao contrário, é uma ciência da área de humanas por excelência. “Desancoragem das expectativas de inflação para prazos mais longos” nada mais é do que a percepção das pessoas – eu, você, o comerciante da esquina, o feirante, todo mundo – de que a inflação vai subir acima da meta.

Se as pessoas, todos nós, não acreditarmos na eficiência da política monetária e acharmos que a inflação ficará acima da meta, o gatilho do aumento de preços é acionado. Por exemplo: em 2025, a meta é de 3,00%, com intervalo entre 1,50% e 4,50%. Se as pessoas acreditarem que a meta não será alcançada, ninguém esperará 2 anos para subir os preços – subirá agora, gerando inflação agora. É por isso, que a ancoragem das expectativas é tão importante para o BC.

O CNM, porém, se reuniu nesta quinta-feira, 29 de junho, e decidiu não mexer nas metas de inflação, indo em comunhão com o que disse o BC sobre as expectativas em sua ata de junho.

E as coisas estão caminhando. A inflação tida como “oficial” do Brasil é medida hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em maio, fechou em 0,23%, com acumulado em 12 meses ficando em 3,94% – ou seja, dentro da meta estipulada para o ano.

Logo após a ata, o IBGE divulgou o IPCA-15 de junho, que é uma espécie de prévia da inflação, abrangendo os 15 últimos dias do mês anterior e os 15 primeiros do mês corrente. A notícia mais recente foi boa: IPCA-15 de 0,04%, um recuo significativo em relação aos 0,51% de maio.

Com tudo isso, analistas entendem que o Banco Central pode mesmo começar o corte na Selic ou em agosto ou na reunião de 19 e 20 de setembro.

Entretanto, até lá, segue elevado o valor para captar empréstimos nos bancos, tanto para pessoa física, quanto para a jurídica, mas agora parece que o céu começa a clarear.

Notícias relacionadas

Anterior
Próximo