Em agosto de 2023, foi lançada em São Paulo a primeira bolsa para negociações de crédito de carbono do mundo, a B4.
O nome faz alusão à B3 – Brasil, Bolsa, Balcão, mas o mercado é outro. E a tecnologia também. A B4 utiliza blockchains para dar segurança e garantir rastreabilidades às operações. A saída se fez necessária, porque um dos maiores desafios do mercado de créditos de carbono é a duplicidade de créditos, o perigo de negociar um mesmo crédito mais de uma vez.
Para entender melhor, é preciso compreender o que são créditos de carbono e o que são blockchains. O mercado de créditos de carbono nasceu na ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, com a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima ou Convenção do Clima.
Esses créditos são reduções de emissões de gases de efeito estufa negociáveis no mercado internacional de carbono, medidas em toneladas evitadas de carbono equivalente (tCO2e). São dois os ativos que podem ser negociados: as permissões de emissões; e as reduções de emissão.
Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), no primeiro ativo, para evitar penalidades, uma entidade precisa reter permissões de emissões iguais ao total de emissões do poluente regulado, para cada período de compromisso. Essas permissões são criadas por um órgão regulador e geralmente distribuídas aos emissores por outorga, leilão, ou combinação dos dois. As permissões são retiradas do mercado quando se deseja reduzir as emissões do poluente regulado.
E no segundo ativo, os ofertantes participam da elaboração e financiamento de um projeto que, quando comparado à forma usual do negócio, reduz emissões de gases de efeito estufa e, em contrapartida, adquirem reduções de emissões obtidas pelo projeto que podem ser vendidas.
Blockchain é uma tecnologia de dados em blocos interligados em cadeia e criptografados. A autenticidade e segurança advém do fato de que não é possível excluir, nem modificar a cadeia sem o consenso da rede como um todo. É um sistema à prova de violações. Os blockchains são mais comumente utilizados para validar as criptomoedas.
Em nota, a B4 explica que, “quando um crédito de carbono é emitido ou negociado mais de uma vez, resulta em usos indevidos de um ativo já debitado. Dessa forma, a credibilidade das empresas que passam por esse processo é minada, ao passo em que ocorre a perda de confiança dos investidores”. Com a tecnologia blockchain, esse risco é eliminado, já que um crédito passa a ser único, bem como sua transação (em tempo real). A ferramenta garante a rastreabilidade da origem dos títulos.
Como toda bolsa de valores, a B4 vai atuar como facilitador entre quem compra e quem vende – ou entre quem gera créditos e quem precisa de créditos para compensar emissões.
A expectativa é movimentar cerca de R$ 12 bilhões em créditos de carbono no primeiro ano de operação, mas a B4 entende que o mercado potencial é dez vezes maior. A B4 não vai ser uma alternativa à B3, diz Odair Rodrigues, um dos fundadores da nova bolsa. “Ela vai listar ativos tokenizados e projetos voltados à sustentabilidade”, diz.
A missão da B4 é liderar a ação climática real no mundo, por meio da tecnologia blockchain, promovendo um presente consciente e um futuro sustentável. O acesso é para “empresas de todos os tamanhos”, embora essa ainda seja uma lógica perseguida majoritariamente por grandes empresas e conglomerados. Isso é algo que a B4 pretende mudar, mas ainda é preciso que a opção do mercado de créditos de carbono chegue como informação para mais empresários. A B4 quer ser o ponto de encontro dessa ação. O pioneirismo ela já tem.